Um passarinho me contou que o elefante brigou com a formiga só porque enquanto dançavam (segundo ele) ela pisou no pé dele! Um passarinho me contou que o jacaré se engasgou e teve de cuspi-lo inteirinho quando tentou engolir, imaginem só, um porco-espinho!
Um passarinho me contou que o namoro do tatu e a tartaruga deu num casamento de fazer dó: cada qual ficou morando em sua casca em vez de morar numa casa só.
Um passarinho me contou que a ostra é fechada, que a cobra é enrolada que a arara é uma cabeça oca, e que o leão-marinho e a foca...
Eu sou o pássaro diurno e noturno, O pássaro misto de carne e lenda, Encarregado de levar o alimento da poesia e da música Aos habitantes da estrada do arranha-céu e da nuvem. Eu sou o pássaro feito homem , que vive no meio de vós. Eu vos forneço o alimento da catástrofe e o ritmo puro. Trago comigo a semente de Deus...e a visão do dilúvio.
Da gaiola do nosso relacionamento em algun momento, o trinco se abriu: o amor fugiu. Por hábito, continuamos a trocar a água e a renovar o alpiste, Mecanicamente, cuidamos de uma ave que não mais existe.
Mesmo que seja um pássaro perdido Nos olhos que não sabem porque voa Há uma certa ternura que ecoa Nos ouvidos dum carinho escondido
Sem espaço seguro p´ra pousar Ninguém ouve a tristeza do seu canto Nem mesmo no poente do seu encanto Se vê a amargura do olhar
Que anseia pelo abrigo da cantiga Que conta a solidão da mão amiga P´ra que se abra ao romper da aurora
A meiguice do amor que não demora A crescer como a fonte da hora Que mata a sede à dor antiga
Jorge Brasil Mesquita
Há pássaros investido em mim saudades e força das tardes despoluídas de céus escuros e velhos
sinto o roçar de asas brancas de luzes marés no interior do meu corpo
agora entrego meus dias ao voo distendo meu espaço à luta contra o passado obscuro palmilho o céu das noites prenhas e provoco o parto necessário dos novos amanhãs.
Era dezembro. O anjo vestido de açafrão voava na Estrada da Bica. O flamboyant florido. O poeta recolhia o silêncio nos olhos.
Pastorava poemas o rosto perdido no tempo. Ouvia os pardais na janela. Longe, o sonho derretendo no último verão. O pássaro se esconde do dilúvio. Os escorpiões estancam o relógio de marrom glacê.
O sal nas paredes, vultos alastram lembranças. O poeta sente as vértebras soterradas. A liberdade da mão forma concha e asas morrem no pórtico da casa.
Era dezembro. O anjo vestido de açafrão sangrou a túnica do poeta. Levou os pardais. O vento sopra na noite os lábios de pedra.
Vejo a tocha da poesia no caminho. Coloco âncoras, os sinos dobram, escuto ladainhas de Ouro Preto.
A clarineta veste a alma e papoulas enfeitam nuvens. Viaja para o equinócio. Seu corpo é o mito da linguagem. Coloco o manto de lã repleto de memórias. O vôo leva os pardais.
Como se fosse o primeiro passarinho do mundo Na primeira manhã do mundo, Voa e revoa Por cima da praça modesta Onde velhinhos sentados Fazem um pouco de sesta. Voa e revoa, inquieto, Por cima da gente que passa Apressada, Por cima das árvores Por cima da estátua eqüestre Que está no meio da praça. Esvoaça, Esvoaça Alegre! Passarinho eu te acho uma graça... Só uma coisa te peço, passarinho de minh'alma: Não me faças nenhum descuido em cima do cavalo da estátua!
Hoje no dia dos meus anos Saio da toca das palavras E vou festejar no telhado Por horas ali ficando, um pombo Ou um tímido rato, de papo pra tarde virado. Hoje não mais sou um bicho doído Nem trago o gosto antigo De um paletó ou de um guarda-chuva pendurados. Transito pelo tempo dos pássaros: Quem me conta os anos , quem na memória me guarda? Se a luz incide, sei que o dia perdura, E me ilumina por dentro esse fato. Quando escurece vou dançar conforme a sombra, contar estrelas intermináveis ou adormecer no anonimato. Mas não quero agora falar de sombras, A noite, eu sei, a noite já é bem outro trato.
Pássaro de coloração exuberante e dono de um belo canto, o Azulão (Cyanocompsa brissonii). Não é um pássaro muito social e normalmente é avistado sozinho junto às matas ciliares e campinas. Seu canto afável divide-se em dois tipos principais: Canto Normal e Surdina, sendo este último um dos cantos mais belos que um pássaro pode realizar. Sua cor é de um azul intenso com as extremidades das asas mais escuras e as patas de coloração semelhante ao bico. Mede cerca de 16 cm e não é raro ser confundido com o Azulinho (Cyanoloxia glauco cerulea), de coloração mais clara, pertencente a mesma família.
“A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá mas não pode medir os seus encantos. A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem nos encantos de um sabiá. Quem acumular muita informação perde o condão de adivinhar: divinare. Os sabiás divinam. ( Manoel de Barros, Livro sobre nada )
Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar” Rubem Alves
sábado, 7 de novembro de 2009
O canário já não canta. Não canta o canário já. Aquilo que em ti me encanta Talvez não me encantará.
Fernando Pessoa
Teus brincos dançam se voltas A cabeça a perguntar. São como andorinhas soltas Que inda não sabem voar.