Amanhã... É domingo. E aos domingos as árvores crescem na cidade, e os pássaros, julgando-se no campo, desfazem-se a cantar empoleirados nelas. Tudo volta ao princípio.
Toda esta noite o rouxinol chorou, Gemeu, rezou, gritou perdidamente! Alma de rouxinol, alma da gente, Tu és, talvez, alguém que se finou!
Tu és, talvez, um sonho que passou, Que se fundiu na Dor, suavemente… Talvez sejas a alma, a alma doente D’alguém que quis amar e nunca amou!
Toda a noite choraste… e eu chorei Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei Que ninguém é mais triste do que nós!
Contaste tanta coisa à noite calma, Que eu pensei que tu eras a minh’alma Que chorasse perdida em tua voz!…
Florbela Espanca - Livro de Mágoas
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Por que partir tão cedo? inda vem longe o dia... Ouves? é o rouxinol. Não é da cotovia Esta encantada voz. Repara, meu amor: Quem canta é o rouxinol na romãzeira em flor. Toda a noite essa voz, que te feriu o ouvido, Povoa a solidão como um longo gemido. Abracemo-nos! fica! inda vem longe o sol! Não canta a cotovia: é a voz do rouxinol!
William Shakespeare
"A poesia está na alma, como o rouxinol está nos ramos."
Alfred de Musset
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Há um grande vento frio cavalgando as ondas,mas o céu está limpo e o sol muito claro.Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão. Rubem Braga
"(…) Esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta. Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e de vitória. Talvez as canções adormeçam as feras que esperam devorar o pássaro. Desde que nasceste não és mais que um vôo no tempo. Rumo ao céu? Que importa a rota? Voa e canta enquanto resistirem tuas asas."