Agora, escrevo pássaros.
Não os vejo chegar, não escolho,
de repente estão aí,
um bando de palavras
a pousar
uma
por
uma
nos arames da página,
entre chilreios e bicadas, chuva de asas,
e eu sem pão para dar, tão somente
deixo-os vir.
Talvez seja isto uma árvore,
ou quem sabe, o amor.
Julio Cortázar
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYk7dT8brh-YaIywkUwwr-KDxsMrlhdccZ4kfY5DkxhayygEYmrCdXYw5N7MdeugZzAx39hAF4D1yeASI7BKf4C2SwUKAvv3a9ztCOBDXqmX7qFvABZ1-VC2Jt9WyVNeJN-fNGMSxPhSXx/s400/rrouxinol.jpg)
Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.
Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.
Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.
Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.
Cecilia Meireles