sábado, 28 de novembro de 2009
O que disse o passarinho
Um passarinho me contou
que o elefante brigou
com a formiga só porque
enquanto dançavam (segundo ele)
ela pisou no pé dele!
Um passarinho me contou
que o jacaré se engasgou
e teve de cuspi-lo inteirinho
quando tentou engolir,
imaginem só, um porco-espinho!
Um passarinho me contou
que o namoro do tatu e a tartaruga
deu num casamento de fazer dó:
cada qual ficou morando em sua casca
em vez de morar numa casa só.
Um passarinho me contou
que a ostra é fechada,
que a cobra é enrolada
que a arara é uma cabeça oca,
e que o leão-marinho e a foca...
Xô xô, passarinho, chega de fofoca!
José Paulo Paes
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
O canto
Às vezes
Às vezes, quando algum pássaro chama
ou entre os ramos algum vento sopra
ou nalgum pátio longe ladra um cão,
por longo tempo eu escuto e me calo.
Minha alma voa para o passado,
para onde, há mil esquecidos anos,
o pássaro e o vento que soprava
mais pareciam meus irmãos e eu.
Minha alma faz-se uma árvore,
um animal, um tecido de nuvens...
Transfigurada e estranha, volta a mim
e me interroga. Que resposta lhe darei?
Hermann Hesse
Começo de biografia
Eu sou o pássaro diurno e noturno,
O pássaro misto de carne e lenda,
Encarregado de levar o alimento da poesia e da música
Aos habitantes da estrada do arranha-céu e da nuvem.
Eu sou o pássaro feito homem , que vive no meio de vós.
Eu vos forneço o alimento da catástrofe e o ritmo puro.
Trago comigo a semente de Deus...e a visão do dilúvio.
Murilo Mendes
Pássaro ausente
Pássaro perdido
Mesmo que seja um pássaro perdido
Nos olhos que não sabem porque voa
Há uma certa ternura que ecoa
Nos ouvidos dum carinho escondido
Sem espaço seguro p´ra pousar
Ninguém ouve a tristeza do seu canto
Nem mesmo no poente do seu encanto
Se vê a amargura do olhar
Que anseia pelo abrigo da cantiga
Que conta a solidão da mão amiga
P´ra que se abra ao romper da aurora
A meiguice do amor que não demora
A crescer como a fonte da hora
Que mata a sede à dor antiga
Jorge Brasil Mesquita
Há pássaros investido em mim
saudades e força das tardes
despoluídas de céus
escuros e velhos
sinto o roçar de asas brancas
de luzes marés
no interior do meu corpo
agora entrego meus dias ao voo
distendo meu espaço à luta
contra o passado obscuro
palmilho o céu das noites prenhas e
provoco o parto necessário
dos novos amanhãs.
Renato Tapado
In Poemas para quem Caminha
O pássaro de pedra
Era dezembro. O anjo vestido de açafrão
voava na Estrada da Bica. O flamboyant
florido. O poeta recolhia o silêncio nos olhos.
Pastorava poemas o rosto perdido no tempo.
Ouvia os pardais na janela. Longe, o sonho derretendo
no último verão. O pássaro se esconde do dilúvio.
Os escorpiões estancam o relógio de marrom glacê.
O sal nas paredes, vultos alastram lembranças.
O poeta sente as vértebras soterradas. A liberdade
da mão forma concha e asas morrem no pórtico da casa.
Era dezembro. O anjo vestido de açafrão sangrou a túnica
do poeta. Levou os pardais. O vento sopra na noite os lábios
de pedra.
Vejo a tocha da poesia no caminho. Coloco âncoras,
os sinos dobram, escuto ladainhas de Ouro Preto.
A clarineta veste a alma e papoulas enfeitam nuvens.
Viaja para o equinócio. Seu corpo é o mito da linguagem.
Coloco o manto de lã repleto de memórias. O vôo leva os pardais.
Marta Gonçalves
Passarinho na tarde de sábado
Como se fosse o primeiro passarinho do mundo
Na primeira manhã do mundo,
Voa e revoa
Por cima da praça modesta
Onde velhinhos sentados
Fazem um pouco de sesta.
Voa e revoa, inquieto,
Por cima da gente que passa
Apressada,
Por cima das árvores
Por cima da estátua eqüestre
Que está no meio da praça.
Esvoaça,
Esvoaça
Alegre!
Passarinho eu te acho uma graça...
Só uma coisa te peço, passarinho de
minh'alma:
Não me faças nenhum descuido em cima
do cavalo da estátua!
Mario Quintana
Transitando pássaros
Hoje no dia dos meus anos
Saio da toca das palavras
E vou festejar no telhado
Por horas ali ficando, um pombo
Ou um tímido rato,
de papo pra tarde virado.
Hoje não mais sou um bicho doído
Nem trago o gosto antigo
De um paletó ou de um guarda-chuva pendurados.
Transito pelo tempo dos pássaros:
Quem me conta os anos ,
quem na memória me guarda?
Se a luz incide, sei que o dia perdura,
E me ilumina por dentro esse fato.
Quando escurece vou dançar conforme a sombra,
contar estrelas intermináveis ou adormecer no anonimato.
Mas não quero agora falar de sombras,
A noite, eu sei, a noite já é bem outro trato.
Fernando Campanella
Um lindo pássaro azul
Surgiu como um doce encanto, sem fazer verpéras, sem magia...
Lançou o seu lindo e afável canto, alegrando toda a minha vida, toda poesia..
Rodopiou por entre as flores energicamente beijando-as lindo colibri, que encanto!!
Pousou de galho em galho disciplicentemente lindo pássaro azul, solta mais o teu canto
Pela janela de meu ser, ele entrou; valsando lindamente sem cessar,estendi a minha mão, ele pousou.
E como a uma flor, pôs-se a me beijar...
Balançou as suas asas, qual primavera semelhante a um canteiro de jasmim.
Ver-te sempre aqui voando.
Ai!!!!q uem me dera pássaro azul, canta um pouco mais para mim
Estalou-se por entre os sertões triunfos de galhos em galhos, vive sempre a pousar.
Fez-se amigos de rolinhas e pombinhos
Lindo pássaro azul, mostra-me o teu cantar.
( Desconheço o autor)
Azulão
Pássaro de coloração exuberante e dono de um belo canto, o Azulão (Cyanocompsa brissonii).
Não é um pássaro muito social e normalmente é avistado sozinho junto às matas ciliares e campinas.
Seu canto afável divide-se em dois tipos principais: Canto Normal e Surdina, sendo este último um dos cantos mais belos que um pássaro pode realizar.
Sua cor é de um azul intenso com as extremidades das asas mais escuras e as patas de coloração semelhante ao bico. Mede cerca de 16 cm e não é raro ser confundido com o Azulinho (Cyanoloxia glauco cerulea), de coloração mais clara, pertencente a mesma família.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
O pássaro azul
– Quem quer comprar o pássaro azul?
– O pássaro azul! repetiram os meninos.
– Quer-me vender? Dou todos os meus brinquedos.
O moleque vendeu.
O menino rico levou a gaiola com o pássaro. De tarde, o tio do menino foi visitá-lo, e ficou tão encantado com o pássaro que propôs:
– Em troca do pássaro azul eu lhe dou um automóvel.
O menino rico aceitou.
Mal o tio levou o pássaro para casa, chegou um amigo banqueiro:
– O pássaro azul… o pássaro da felicidade.
O banqueiro desafiou:
– Vamos disputá-lo num jogo de cartas?
O tio, que estava convencido que aquele era o pássaro azul da felicidade, aceitou. E perdeu.
O banqueiro levou o pássaro azul para o palácio.
– Coloquem-no em uma gaiola de ouro… é o pássaro da felicidade.
Um criado, sabendo que aquele pássaro trazia a felicidade, roubou-o e deu-o de presente a sua noiva:
– È o pássaro da felicidade.
– Vou botá-lo no viveiro do jardim.
Botou.
Um moleque que estava com outros em cima do muro, reconheceu:
– Lá está o meu pássaro azul.
– È ele mesmo.
– Ainda está pintado de azul. A cor não desapareceu.
E o pássaro vendo o lagozinho jogou-se n’água, tomou um banho… e a cor desapareceu.
Quando a moça voltou com o alpiste, ficou espantada:
– Cadê o meu pássaro azul da felicidade?
Wilson W Rodrigues
domingo, 22 de novembro de 2009
Sabiá
“A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá mas não pode medir os seus encantos. A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem nos encantos de um sabiá. Quem acumular muita informação perde o condão de adivinhar: divinare. Os sabiás divinam.
( Manoel de Barros, Livro sobre nada )
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