quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009



E agora o que fazer com essa manhã desabrochada a pássaros?
Manoel de Barros

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009


















As mãos que dizem adeus são pássaros que vão morrendo lentamente.
(Mário Quintana)














E agora o que fazer com essa manhã desabrochada a pássaros?
Manoel de Barros



nos fios
os pássaros
escrevem música

Eugénia Tabosa














Flauta,
cascata de pássaros
entornando cantos úmidos.

Yeda Prates Bernis

























Canto e contracanto:
o pica-pau reclamando
do som do machado.
Anibal Beça


















“Extingue-se o dia, mas não o canto da cotovia”
Matsuo Bashô!

O Beija-Flor























O verde beija-flor, rei das colinas,
Vendo o rocio e o sol brilhante
Luzir no ninho, trança d'ervas finas,
Qual fresco raio vai-se pelo ar distante.

Rápido voa ao manancial vizinho,
Onde os bambus sussurram como o mar,
Onde o açoká rubro, em cheiros de carinho,
Abre, e eis no peito úmido a fuzilar.

Desce sobre a áurea flor a repousar,
E em rósea taça amor a inebriar,
E morre não sabendo se a pode esgotar!

Em teus lábios tão puros, minha amada,
Tal minha alma quisera terminar,
Só do primeiro beijo perfumada!

(Leconte de Lisle)

Namoro da cotovia e do rouxinol























A cotovia, com suaves pios,
chamou o rouxinol
de meu amor...
O rouxinol, desprezou a cotovia,
que triste se despedia...
Mas o beija-flor... parou de sugar
o néctar das flores,
enamorou-se da cotovia...
O rouxinol, orgulhoso,
sozinho ficou...
e a cotovia, saiu feliz
com o beija-flor,
seu novo amor...

Marcial Salaverry

“Cotovia”




Alô, cotovia !
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que tantas saudades me deixastes ?

- Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento.
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe ...
Voltei, te trouxe a alegria.

- Muito contas, cotovia !
E que outras terras distantes
Visitastes ? Dize ao triste.

- Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, bahia ...

- Voei ao Recife, no cais
Pousei na rua da Aurora.

- Aurora da minha vida,
Que os anos não trazem mais !

Os anos não, nem os dias,
Que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino

Para o bem que é deste mundo :
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, aonde alcança
Só a asa da cotovia,
- Do mais remoto e perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.

Manuel Bandeira

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Passarinho na tarde de sábado




Como se fosse o primeiro passarinho do mundo
Na primeira manhã do mundo,
Voa e revoa
Por cima da praça modesta
Onde velhinhos sentados
Fazem um pouco de sesta.
Voa e revoa, inquieto,
Por cima da gente que passa
Apressada,
Por cima das árvores
Por cima da estátua eqüestre
Que está no meio da praça.
Esvoaça,
Esvoaça
Alegre!
Passarinho eu te acho uma graça...
Só uma coisa te peço, passarinho de
minh'alma:
Não me faças nenhum descuido em cima
do cavalo da estátua!

Mario Quintana

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Andorinhas



Quando em criança, lembro das tardinhas
E da cor rubra, de tantos ocasos.
Bem lá no centro das lembranças minhas
(...E ai me enchem d’água os olhos rasos!)

Me vem o vôo sutil das andorinhas,
Que ao frenesi do seu bater de asas,
Cruzavam o céu em sinuosas linhas,
Fazendo evoluções no vão das casas.

Recordo ainda o que mamãe dizia;
- São as Andorinhas, aves benfazejas,
Deus as fez só pra alegrar Maria

Quando iam brincar com seu Jesus menino.
Por isso agora moram nas igrejas
Nas altas torres onde bate o sino.

Jenário de Fátima

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009


























Na língua dos pássaros uma expressão tinge
a seguinte.
Se é vermelha tinge a outra de vermelho.
Se é alva tinge a outra dos lírios da manhã.
É língua muito transitiva a dos pássaros.
Não carece de conjunções nem de abotoaduras.
Se comunica por encantamentos.
E por não ser contaminada de contradições
A linguagem dos pássaros
Só produz gorjeios.

Manoel de Barros

O beija-flor




Acostumei-me a vê-lo todo o dia
De manhãzinha, alegre e prazenteiro,
Beijando as brancas flores de um canteiro
No meu jardim - a pátria da ambrosia.

Pequeno e lindo, só me parecia
Que era da noite o sonho derradeiro…
Vinha trazer às rosas o primeiro
Beijo do Sol, nessa manhã tão fria!

Um dia foi-se e não voltou… Mas quando
A suspirar me ponho, contemplando,
Sombria e triste, o meu jardim risonho…

Digo, a pensar no tempo já passado:
Talvez, ó coração amargurado,
Aquele beija-flor fosse o teu sonho!

Auta de Souza

sábado, 28 de novembro de 2009

O que disse o passarinho




Um passarinho me contou
que o elefante brigou
com a formiga só porque
enquanto dançavam (segundo ele)
ela pisou no pé dele!
Um passarinho me contou
que o jacaré se engasgou
e teve de cuspi-lo inteirinho
quando tentou engolir,
imaginem só, um porco-espinho!

Um passarinho me contou
que o namoro do tatu e a tartaruga
deu num casamento de fazer dó:
cada qual ficou morando em sua casca
em vez de morar numa casa só.

Um passarinho me contou
que a ostra é fechada,
que a cobra é enrolada
que a arara é uma cabeça oca,
e que o leão-marinho e a foca...

Xô xô, passarinho, chega de fofoca!

José Paulo Paes

Não estão



Os pássaros não estão,
se esconderam no meu coração.

Hoje sou ninho.

Humberto Ak'abal

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O canto

















Leve, breve,suave,
Um canto de ave
Sobe no ar com que principia
O dia.
Escuto, e passou...
Parece que foi só porque escutei
Que parou.

Fernando Pessoa

Às vezes


















Às vezes, quando algum pássaro chama
ou entre os ramos algum vento sopra
ou nalgum pátio longe ladra um cão,
por longo tempo eu escuto e me calo.

Minha alma voa para o passado,
para onde, há mil esquecidos anos,
o pássaro e o vento que soprava
mais pareciam meus irmãos e eu.

Minha alma faz-se uma árvore,
um animal, um tecido de nuvens...
Transfigurada e estranha, volta a mim
e me interroga. Que resposta lhe darei?

Hermann Hesse

Começo de biografia






Eu sou o pássaro diurno e noturno,
O pássaro misto de carne e lenda,
Encarregado de levar o alimento da poesia e da música
Aos habitantes da estrada do arranha-céu e da nuvem.
Eu sou o pássaro feito homem , que vive no meio de vós.
Eu vos forneço o alimento da catástrofe e o ritmo puro.
Trago comigo a semente de Deus...e a visão do dilúvio.

Murilo Mendes

Pássaro ausente



















Da gaiola do nosso relacionamento
em algun momento,
o trinco se abriu:
o amor fugiu.
Por hábito, continuamos
a trocar a água
e a renovar o alpiste,
Mecanicamente, cuidamos
de uma ave
que não mais existe.

Wilson Gorj

Pássaro perdido
























Mesmo que seja um pássaro perdido
Nos olhos que não sabem porque voa
Há uma certa ternura que ecoa
Nos ouvidos dum carinho escondido

Sem espaço seguro p´ra pousar
Ninguém ouve a tristeza do seu canto
Nem mesmo no poente do seu encanto
Se vê a amargura do olhar

Que anseia pelo abrigo da cantiga
Que conta a solidão da mão amiga
P´ra que se abra ao romper da aurora

A meiguice do amor que não demora
A crescer como a fonte da hora
Que mata a sede à dor antiga

Jorge Brasil Mesquita



Há pássaros investido em mim
saudades e força das tardes
despoluídas de céus
escuros e velhos

sinto o roçar de asas brancas
de luzes marés
no interior do meu corpo

agora entrego meus dias ao voo
distendo meu espaço à luta
contra o passado obscuro
palmilho o céu das noites prenhas e
provoco o parto necessário
dos novos amanhãs.

Renato Tapado
In Poemas para quem Caminha

O pássaro de pedra
























Era dezembro. O anjo vestido de açafrão
voava na Estrada da Bica. O flamboyant
florido. O poeta recolhia o silêncio nos olhos.

Pastorava poemas o rosto perdido no tempo.
Ouvia os pardais na janela. Longe, o sonho derretendo
no último verão. O pássaro se esconde do dilúvio.
Os escorpiões estancam o relógio de marrom glacê.

O sal nas paredes, vultos alastram lembranças.
O poeta sente as vértebras soterradas. A liberdade
da mão forma concha e asas morrem no pórtico da casa.

Era dezembro. O anjo vestido de açafrão sangrou a túnica
do poeta. Levou os pardais. O vento sopra na noite os lábios
de pedra.

Vejo a tocha da poesia no caminho. Coloco âncoras,
os sinos dobram, escuto ladainhas de Ouro Preto.

A clarineta veste a alma e papoulas enfeitam nuvens.
Viaja para o equinócio. Seu corpo é o mito da linguagem.
Coloco o manto de lã repleto de memórias. O vôo leva os pardais.

Marta Gonçalves

Passarinho na tarde de sábado















Como se fosse o primeiro passarinho do mundo
Na primeira manhã do mundo,
Voa e revoa
Por cima da praça modesta
Onde velhinhos sentados
Fazem um pouco de sesta.
Voa e revoa, inquieto,
Por cima da gente que passa
Apressada,
Por cima das árvores
Por cima da estátua eqüestre
Que está no meio da praça.
Esvoaça,
Esvoaça
Alegre!
Passarinho eu te acho uma graça...
Só uma coisa te peço, passarinho de
minh'alma:
Não me faças nenhum descuido em cima
do cavalo da estátua!

Mario Quintana

Transitando pássaros




















Hoje no dia dos meus anos
Saio da toca das palavras
E vou festejar no telhado
Por horas ali ficando, um pombo
Ou um tímido rato,
de papo pra tarde virado.
Hoje não mais sou um bicho doído
Nem trago o gosto antigo
De um paletó ou de um guarda-chuva pendurados.
Transito pelo tempo dos pássaros:
Quem me conta os anos ,
quem na memória me guarda?
Se a luz incide, sei que o dia perdura,
E me ilumina por dentro esse fato.
Quando escurece vou dançar conforme a sombra,
contar estrelas intermináveis ou adormecer no anonimato.
Mas não quero agora falar de sombras,
A noite, eu sei, a noite já é bem outro trato.

Fernando Campanella

Um lindo pássaro azul




















Surgiu como um doce encanto, sem fazer verpéras, sem magia...

Lançou o seu lindo e afável canto, alegrando toda a minha vida, toda poesia..

Rodopiou por entre as flores energicamente beijando-as lindo colibri, que encanto!!

Pousou de galho em galho disciplicentemente lindo pássaro azul, solta mais o teu canto

Pela janela de meu ser, ele entrou; valsando lindamente sem cessar,estendi a minha mão, ele pousou.

E como a uma flor, pôs-se a me beijar...

Balançou as suas asas, qual primavera semelhante a um canteiro de jasmim.

Ver-te sempre aqui voando.

Ai!!!!q uem me dera pássaro azul, canta um pouco mais para mim

Estalou-se por entre os sertões triunfos de galhos em galhos, vive sempre a pousar.

Fez-se amigos de rolinhas e pombinhos

Lindo pássaro azul, mostra-me o teu cantar.

( Desconheço o autor)

Azulão















Pássaro de coloração exuberante e dono de um belo canto, o Azulão (Cyanocompsa brissonii).
Não é um pássaro muito social e normalmente é avistado sozinho junto às matas ciliares e campinas.
Seu canto afável divide-se em dois tipos principais: Canto Normal e Surdina, sendo este último um dos cantos mais belos que um pássaro pode realizar.
Sua cor é de um azul intenso com as extremidades das asas mais escuras e as patas de coloração semelhante ao bico. Mede cerca de 16 cm e não é raro ser confundido com o Azulinho (Cyanoloxia glauco cerulea), de coloração mais clara, pertencente a mesma família.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O pássaro azul

















– Quem quer comprar o pássaro azul?

– O pássaro azul! repetiram os meninos.

– Quer-me vender? Dou todos os meus brinquedos.

O moleque vendeu.

O menino rico levou a gaiola com o pássaro. De tarde, o tio do menino foi visitá-lo, e ficou tão encantado com o pássaro que propôs:

– Em troca do pássaro azul eu lhe dou um automóvel.

O menino rico aceitou.

Mal o tio levou o pássaro para casa, chegou um amigo banqueiro:

– O pássaro azul… o pássaro da felicidade.

O banqueiro desafiou:

– Vamos disputá-lo num jogo de cartas?

O tio, que estava convencido que aquele era o pássaro azul da felicidade, aceitou. E perdeu.

O banqueiro levou o pássaro azul para o palácio.

– Coloquem-no em uma gaiola de ouro… é o pássaro da felicidade.

Um criado, sabendo que aquele pássaro trazia a felicidade, roubou-o e deu-o de presente a sua noiva:

– È o pássaro da felicidade.

– Vou botá-lo no viveiro do jardim.

Botou.

Um moleque que estava com outros em cima do muro, reconheceu:

– Lá está o meu pássaro azul.

– È ele mesmo.

– Ainda está pintado de azul. A cor não desapareceu.

E o pássaro vendo o lagozinho jogou-se n’água, tomou um banho… e a cor desapareceu.

Quando a moça voltou com o alpiste, ficou espantada:

– Cadê o meu pássaro azul da felicidade?

Wilson W Rodrigues

domingo, 22 de novembro de 2009

Sabiá


















“A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá mas não pode medir os seus encantos. A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem nos encantos de um sabiá. Quem acumular muita informação perde o condão de adivinhar: divinare. Os sabiás divinam.
( Manoel de Barros, Livro sobre nada )




Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar”
Rubem Alves

sábado, 7 de novembro de 2009




O canário já não canta.
Não canta o canário já.
Aquilo que em ti me encanta
Talvez não me encantará.

Fernando Pessoa



Teus brincos dançam se voltas
A cabeça a perguntar.
São como andorinhas soltas
Que inda não sabem voar.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A lenda do melro e da cereja...















Conta a lenda que desde sempre havia uma grande rivalidade entre duas aldeias vizinhas: Barrô e Penajóia por causa da boa qualidade das cerejas.
Cada um destes povos era grande produtor de boa cereja, talvez a melhor da região ou mesmo do mundo. Cada um deles defendia que a sua era a melhor do que a do povo vizinho.
Certa altura ( na época das cerejas) um agricultor da Penajóia, estava a guardar as suas cerejeiras para que ninguém as roubasse e assim manter a sua boa semente.
De repente um melro de bico muito amarelo, dando conta que o agricultor estava distraído depenicou uma cereja e fugiu. O agricultor deu conta e foi logo atrás dele com uma espingarda para o apanhar. O melro tanto voou, tanto voou, que logo chegou à outra terra vizinha – Barro. O agricultor nunca o perdeu de vista.
O melro de tão cansado que estava pousou numa pernada de outra cerejeira. O agricultor apontou a espingarda ao melro e disparou um tiro; o melro assustou-se, deixou cair a semente e fugiu novamente.
O dono do cerejal ao ouvir tal estrondo foi ver o que se passava. Ao chegar lá, qual o seu espanto; viu um estranho com uma arma a apanhar qualquer coisa do chão e perguntou-lhe:
-Quem é o senhor e o que está aqui a fazer?
-Para que é que quer saber da minha vida? O senhor não tem nada a ver com isso!
-Tenho sim senhor, porque está no meu terreno!
-Estou a apanhar uma semente de cereja que é a melhor do mundo, que um melro ma roubou do meu terreno na Penajóia.
-Então deu-se ao trabalho de ir atrás de um melro por causa de uma porcaria de uma semente dessas!
-Porcaria são as suas sementes…
Os homens discutiram, discutiram , mas nada concluíram…


(Trabalho colectivo da Turma M-7)

(Texto baseado na lenda do melro, da cereja e do lavrador da Penajóia)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

















“Um pássaro nunca faz seu ninho em uma árvore seca.”

Provérbio japonês

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A Lenda do Pássaro Chamado Tiê – Sangue




Era uma vez , uma índia chamada Tiê ,
Que era perfumada como a flor do ipê !
Ela era uma índia sonhadora e faceira ...
Mas , também era uma guerreira !

Porém , ela não gostava de fazer nenhum tipo de guerra ...
Tiê só gostava de admirar a natureza da primavera !
Seu sonho era ser um pássaro na linda paisagem ...
Para ter a liberdade de voar em qualquer miragem !

Mas , um dia Tiê teve que participar ...
De uma batalha de amargar !
Mas , ela foi ferida ...
Pela tribo inimiga ,

Que espalhou o seu sangue pela terra ...
Naquela manhã de primavera !

E quando tudo escureceu ...
Ela , levemente , faleceu !
Porém , o deus Tupã ...
Naquela triste manhã ...

Resolveu atender a fantasia ...
Da falecida índia cheia de poesia !
Assim , ele transformou o sangue da guerreira ...
Numa ave bela , graciosa e faceira !

Deste jeito ...
Todo perfeito ...
Surgiu o tiê – sangue , um pássaro sonhador ,
Que voa pelo céu do Brasil com amor .

Luciana do Rocio Mallon

A Lenda do Pássaro Cabeça-de-Vento















Numa tribo indígena, havia uma mulher que se sentia muito infeliz no casamento. O marido era um daqueles homens broncos, insensíveis, incapazes de um ato de verdadeiro carinho, mas que dizia amar muito a mulher. Ela, a cada dia, se sentia mais oprimida por ele. Sabia que seria muito difícil deixá-lo, pois ele não aceitaria jamais este fato. Mesmo assim, teve coragem para dizer-lhe que iria embora. É claro que o marido não concordou e, de acordo com os costumes da tribo, ela teria de ficar com ele. O marido, então, passou a oprimi-la ainda mais. E assim foram vivendo, por muito tempo.
Uma noite, porém, a mulher fez uma descoberta fascinante: depois que o marido dormia, ela podia deixar o corpo na cama, ao lado dele, e sair com a cabeça para voar. Ele, dormindo, como de costume, passava a mão do lado dela e via que ela estava lá e continuava a dormir. Ela, a cabeça, voava por toda a floresta, conhecia lugares incríveis. E assim foi por um bom tempo. Quase todas as noites, a cabeça ia passear sozinha, longe da opressão do marido.
Tudo ia mais ou menos bem, mas, uma noite, a cabeça voou para longe demais… e não conseguiu encontrar o caminho de volta. Ficou só aquela cabeça a voar, perdida na floresta.
Ao amanhecer, o marido se deu conta de que só tinha o corpo da mulher consigo. Ficou furioso. Não podia aceitar aquilo e, como tinha só o corpo, decidiu castigá-lo: surrou-o até a morte. Não satisfeito, esquartejou o corpo, queimou-o jogando as cinzas no rio.
E a cabeça? O Deus da tribo, para não deixá-la aquela vagando perdida pela floresta, transformou-a no “pássaro-cabeça-de-vento”. E foi assim que este pássaro surgiu na Terra. Um pássaro que traz consigo um grande ar de tristeza, mas que, no fundo, tem um quê de felicidade,, pois é livre.

Contado por Ricardo Azevedo no curso “Elos entre o folclore e a literatura infantil” (Belo Horizonte – 2000)
Reescrita: Carmélia Cândida

A Lenda do Jurutaui



O Jurutauí era o pássaro que cantava a mais linda canção da floresta e portanto, verdadeiramente admirado pelos outros pássaros por possuir voz tão melodiosa. Um dia, o Jurutaui viu a lua brilhando com todo seu esplendor, e se apaixonou perdidamente por ela. Então para ser ouvido por sua musa, o Jurutaui voava entre as mais altas árvores para cantar o seu amor enchendo a floresta com o mais devotado canto.

Apesar de poder admirá-la, o Jurutaui não se conformava de estar tão distante da amada e voava mais alto e mais alto tentando alcançá-la, mas não resistindo ao poder das alturas, caiu duramente ao solo. Tonto, ainda tentou se recuperar e cantar sua linda canção, mas um som rouco e terrível saiu-lhe da garganta ecoando na floresta. Os outros pássaros vieram em bandos e tentaram socorrê-lo mas sem nada poderem fazer, lamentaram a perda da mais bela música até então ouvida. Agora, quando a floresta ecoa rouca e triste, todos sabem que é porque o Jurutaui está cantando.

Lenda indígena

Lenda do beija-flor















Existiam duas tribos morando à beira de um rio: uma tribo maior e uma tribo menor.

A tribo menor plantava e pescava com muito afinco e, com isso,começou a ter mais peixe e maior abundância de alimentos. Isto gerou inveja na outra tribo, que começou a hostilizar seus vizinhos, primeiro com palavras, depois com gestos e por fim declararam guerra àqueles que, mesmo em menor número, eram mais trabalhadores e eficientes.


Indiferente a estas questões, dois jovens se enamoraram, porém cada qual pertencia a uma tribo. O rapaz pertencia à tribo menor e a jovem à tribo maior. Apesar da guerra, os dois se encontravam às escondidas, mas um dia os guerreiros da tribo da jovem a seguiram e os encontraram namorando. Depois de espancar o rapaz e pensando que ele já estivesse morto levaram a jovem de volta à tribo.


O Conselho dos Anciãos foi convocado para o julgamento da pobre jovem. A acusação era de traição, já que as tribos estavam em guerra e eles acreditavam que ela passava segredos para a outra tribo. A sentença era de morte, mas por ela ser muito jovem e bela, convocaram os Xamãs que resolveram transformá-la numa flor.


O rapaz, socorrido por seus guerreiros, sobreviveu ao espancamento e, tão logo se recuperou passou a procurar desesperadamente pela sua amada. Ele chamou os anciãos e anunciou que iria até a outra tribo em busca de seu amor. Eles não permitiram tremenda loucura e tentaram, de toda forma, impedi-lo. Afirmaram que na sua tribo existiam lindas moças que poderiam ser boa esposa e dar-lhe filhos fortes e saudáveis. O rapaz estava irredutível e os anciãos, vendo tamanha decisão e tristeza do jovem, chamaram os xamãs para ajudá-los. Depois de muito pensar e sabendo que a jovem amada tinha sido transformada em flor decidiram transformá-lo em Beija-Flor.

Segundo a lenda, é por isto que o Beija-Flor vai de flor em flor, sempre tentando achar a sua amada.


Em toda lenda índígena existe uma moral que os mais velhos ensinam aos mais novos e esta é que nunca se deve desistir do seu objetivo.

A lenda do uirapuru













Dizem que no Sul do Brasil, havia uma tribo de índios, cujo cacique era amado por duas moças muito bonitas. Não sabendo qual escolher, o jovem cacique prometeu casar-se com aquela que tivesse melhor pontaria.
Aceite a prova, as duas índias atiraram as flechas, mas só uma acertou o alvo. Essa casou-se com o chefe da tribo.
A outra, chamada Obirici, chorou tanto que suas lágrimas formaram uma fonte e um córrego. Pediu ela a Tupã que a transformasse num passarinho para poder visitar o cacique sem ser reconhecida. Tupã fez a sua vontade.
Mas verificando que o cacique amava a sua esposa,
Obirici resolveu abandonar aqueles lugares e voou para o Norte do Brasil, indo parar nas matas da Amazónia.
Para consolá-la, Tupã deu-lhe um canto melodioso.
Assim, canta para esquecer as suas mágoas; e os outros pássaros, quando encontram o uirapuru, ficam calados para ouvir as suas notas maravilhosas. Por causa de seu belo canto, chamam-no de: professor de canto dos pássaros.
O uirapuru (Leucolepis arada) é o cantor das florestas amazónicas.
Seu visual não é dos mais atraentes, normalmente tem a cor verde-oliva com cauda avermelhada.
Entretanto, tem um canto tão lindo, tão melodioso, que os outros pássaros ficam quietos e silenciosos só para ouvi-lo.
Todavia este canto somente pode ser ouvido 15 dias por ano, na época em que constrói o seu ninho.
Não bastasse isto, ele canta somente ao amanhecer, por 5 ou 10 minutos.
Neste pássaro, o real e o lendário se confundem: dizem que ele não repete frases musicais.
Por todas estas qualidades, os indígenas e sertanejos acham que ele é um pássaro sobrenatural. Na verdade, o seu nome quer dizer: "pássaro que não é pássaro". Depois de morto o seu corpo é considerado um talismã que dá felicidade a quem o possui.
Para os tupis o uirapuru é um deus que toma a forma de pássaro e anda sempre rodeado por outros. A ele atribuem a virtude de conduzir um refluir de pessoas à casa de quem possui um deles.

Lenda indígena

























Conta uma lenda indígena, que durante uma festa de primavera, organizada para todos os pássaros, os travessos beija-flores devoraram às escondidas todas as iguarias mais doces do banquete, não sobrando nada para os outros convidados. Como foram pegos em flagrante, receberam o seguinte castigo: teriam de repor, continuamente, um a um dos doces furtados. Desde então, eles vivem voando apressados e incessantemente em busca do néctar das flores.

Castigo ou não, o fato é que essa busca desesperada oferece a nós, humanos, um verdadeiro espetáculo natural. Não há quem não se renda à beleza e graciosidade dessas pequenas criaturas!

O MELRO E AS OUTRAS AVES















Um velho melro encontrou um miolo de pão e saiu voando com ele. Ao ver isso, os pássaros mais jovens correram para atacá-lo. Diante do combate iminente, o melro largou o miolo de pão na boca de uma serpente, pensando consigo mesmo:

"Quando se está velho, a gente vê a vida de outra maneira: perdi meu alimento, é verdade, mas posso encontrar outro miolo de pão amanhã".

"Entretanto, se insistisse em carregá-lo comigo, iria deflagrar uma guerra no céu; o vencedor passaria a ser invejado, os outros se armariam para combatê-lo, o ódio encheria o coração dos pássaros, e tal situação poderia durar por muito tempo".

"A sabedoria da velhice é essa: saber trocar as vitórias imediatas pelas conquistas duradouras".

Desconheço o autor

Bem-te-vi



















Conhecido popularmente como Bem-te-vi, seu nome vem dos sons que ele emite, pois quando ouvimos somos capazes de distinguir essas sílabas. Também chamados de Pitanguá e Triste Vida, são aves muito alegres.
O seu cardápio é muito variado, come praticamente de tudo. Alimenta-se de insetos como a abelha, larvas de besouro e é capaz de capturá-los durante o seu vôo.
Também devora outros pequenos animais, como peixes, minhocas e cobras. É capaz, inclusive, de ser o predador de ninhos de outras aves, principalmente quando se sente ameaçado.
Mas não dispensa as frutas que podem ser bananas e laranjas. Para completar a dieta dessa pequena ave, as flores não podem faltar.

"Para Criar passarinho...



Para bem criar passarinho há que se gostar da noite como um tempo para dormir aninhado entre estrelas. Isso se consegue não suspeitando dos sonhos e fascinar-se com a temporária presença da lua. Ter o escuro como manto capaz de abrigar o sono e mais uma paciente certeza de um sol depois de toda a madrugada"
(Bartolomeu Campos Queirós)


O gato e o pássaro




Uma cidade escuta desolada
O canto de um pássaro ferido
É o único pássaro da cidade
Que o devorou pela metade
E o pássaro pára de cantar
O gato pára de ronronar
E de lamber o focinho
E a cidade prepara para o pássaro
Maravilhosos funerais
E o gato que foi convidado
Segue o caixãozinho de palha
Em que deitado está o pássaro morto
Levado por uma menina
Que não pára de chorar
Se soubesse que você ia sofrer tanto
Lhe diz o gato
Teria comido ele todinho
E depois teria te dito
Que tinha visto ele voar
Voar até o fim do mundo
Lá onde o longe é tão longe
Que de lá não se volta mais
Você teria sofrido menos
Sentiria apenas tristeza e saudades

Não se deve deixar as coisas pela metade.

Jacques Prévert

quarta-feira, 14 de outubro de 2009


























Vem !
- Uma flauta invisível
Vem ! - Uma flauta invisível
Suspire perto dos vergéis
- A canção mais tranqüila
É a canção de pastores.
O vento sopra, debaixo dos galhos ,
O espelho escuro das águas.
- A canção mais feliz
É a canção de pássaros.
Aquele cuidar atento não te atormenta.
Nos amamos ! amamos sempre!
- A canção mais encantadora
É a canção de amores.
.
Victor Hugo



















Será liberdade
aquele vôo de águia
de uma simples
folha seca?

Que poder tenho eu
sobre o dom da liberdade
de uma simples
borboleta?

Liberdade é assim:
sai o perfume da flor
mas a flor não sai de mim...

Afonso Estebanez

terça-feira, 6 de outubro de 2009





















Mais outra aurora. Como em todas as manhãs,

deparo a beleza do mundo, e não posso agradecer:

há tantas rosas, tantos lábios. Vem minha amiga,

pousa o teu alaúde, os pássaros estão cantando.

Omar Khayyam

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Fim de dia



















Este canário entende de alma humana
E todo dia vem me dar conselho.
É meu guru, meu mestre, meu espelho,
Critica meus defeitos, não me engana.

Dita-me os passos, tudo ensina e explana,
Como sábio falando a um fedelho.
Dedico-lhe respeito e me assemelho
A aluno surpreendido em falta insana.

Meu canário amarelo, tu que tens
Sempre um gorjeio a mais que me distraia,
Bem mereces, por isso, os parabéns.

É hora de ir dormir, canoro amigo,
Antes que as outras aves desta praia
Pensem que és louco por falar comigo.

Solange Rech