sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A Lenda do Pássaro Cabeça-de-Vento















Numa tribo indígena, havia uma mulher que se sentia muito infeliz no casamento. O marido era um daqueles homens broncos, insensíveis, incapazes de um ato de verdadeiro carinho, mas que dizia amar muito a mulher. Ela, a cada dia, se sentia mais oprimida por ele. Sabia que seria muito difícil deixá-lo, pois ele não aceitaria jamais este fato. Mesmo assim, teve coragem para dizer-lhe que iria embora. É claro que o marido não concordou e, de acordo com os costumes da tribo, ela teria de ficar com ele. O marido, então, passou a oprimi-la ainda mais. E assim foram vivendo, por muito tempo.
Uma noite, porém, a mulher fez uma descoberta fascinante: depois que o marido dormia, ela podia deixar o corpo na cama, ao lado dele, e sair com a cabeça para voar. Ele, dormindo, como de costume, passava a mão do lado dela e via que ela estava lá e continuava a dormir. Ela, a cabeça, voava por toda a floresta, conhecia lugares incríveis. E assim foi por um bom tempo. Quase todas as noites, a cabeça ia passear sozinha, longe da opressão do marido.
Tudo ia mais ou menos bem, mas, uma noite, a cabeça voou para longe demais… e não conseguiu encontrar o caminho de volta. Ficou só aquela cabeça a voar, perdida na floresta.
Ao amanhecer, o marido se deu conta de que só tinha o corpo da mulher consigo. Ficou furioso. Não podia aceitar aquilo e, como tinha só o corpo, decidiu castigá-lo: surrou-o até a morte. Não satisfeito, esquartejou o corpo, queimou-o jogando as cinzas no rio.
E a cabeça? O Deus da tribo, para não deixá-la aquela vagando perdida pela floresta, transformou-a no “pássaro-cabeça-de-vento”. E foi assim que este pássaro surgiu na Terra. Um pássaro que traz consigo um grande ar de tristeza, mas que, no fundo, tem um quê de felicidade,, pois é livre.

Contado por Ricardo Azevedo no curso “Elos entre o folclore e a literatura infantil” (Belo Horizonte – 2000)
Reescrita: Carmélia Cândida

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