segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

“Cotovia”




Alô, cotovia !
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que tantas saudades me deixastes ?

- Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento.
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe ...
Voltei, te trouxe a alegria.

- Muito contas, cotovia !
E que outras terras distantes
Visitastes ? Dize ao triste.

- Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, bahia ...

- Voei ao Recife, no cais
Pousei na rua da Aurora.

- Aurora da minha vida,
Que os anos não trazem mais !

Os anos não, nem os dias,
Que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino

Para o bem que é deste mundo :
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, aonde alcança
Só a asa da cotovia,
- Do mais remoto e perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.

Manuel Bandeira

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